Bolsonaro nega tentativa de golpe em interrogatório no STF
- Monica Stahelin
- 11 de jun.
- 3 min de leitura

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi interrogado esta terça-feira, 10 de junho, no Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do processo que investiga uma alegada tentativa de golpe de Estado no final de 2022, destinada a impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a audiência, Bolsonaro negou qualquer envolvimento na suposta trama e afirmou ter sempre atuado dentro dos limites constitucionais.
"Não procede a acusação, Excelência", afirmou logo no início da sessão. Em resposta às perguntas do relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, o ex-presidente refutou acusações de ter articulado um plano golpista e voltou a defender a implementação do voto impresso, sob o argumento de que o sistema electrónico de votação é vulnerável.
Ao ser confrontado com declarações passadas em que lançou dúvidas sobre a segurança das urnas electrónicas, Bolsonaro afirmou que não estava sozinho nessa desconfiança, citando inclusive uma fala antiga do ministro Flávio Dino sobre a necessidade de auditorias no sistema eleitoral. No entanto, Moraes foi taxativo: “Este inquérito não tem absolutamente nada a ver com urnas electrónicas.”
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Contradições, desculpas e episódios polémicos
O ex-presidente também foi questionado sobre declarações ofensivas contra ministros do STF e do TSE, em que insinuou que estariam envolvidos em actos ilícitos. Pediu desculpa e disse não possuir provas, justificando que as falas foram usadas como "retórica política".
Negou, ainda, que tenha participado da elaboração de uma "minuta golpista" e afirmou que, apesar de ter estado reunido com militares e o seu então assessor, Felipe Martins, nunca discutiu qualquer plano fora da Constituição. "Sempre estive do lado da Constituição", garantiu.
Ao ser interpelado sobre os actos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram os edifícios dos Três Poderes, Bolsonaro minimizou a gravidade dos factos, referindo que não houve uso de armas de fogo. Criticou ainda as penas aplicadas aos envolvidos: “Não consigo entender certas condenações a pessoas que mal sabiam o que estavam a fazer naquele momento.”
“Arrecadei mais do que o Criança Esperança”
Numa tentativa de reforçar a sua popularidade, o ex-presidente destacou o apoio financeiro que tem recebido da população desde que deixou o cargo, afirmando ter angariado mais de 18 milhões de reais através de doações por Pix — valor que, segundo ele, ultrapassa as verbas arrecadadas pela campanha beneficente Criança Esperança.
Ao responder ao seu próprio advogado, Celso Vilardi, Bolsonaro afirmou desconhecer qualquer plano que envolvesse a morte de autoridades e garantiu que apenas tomou conhecimento desses rumores pela imprensa.
Por fim, ao ser questionado sobre uma reunião ministerial que terá sido gravada sem o seu conhecimento, o ex-presidente disse que foi vítima de espionagem: "Alguém gravou essa reunião, que alguns apelidaram de reunião do golpe."
Interrogatórios continuam no STF
A oitiva de Bolsonaro faz parte da fase de instrução do processo e ocorre após o início dos depoimentos dos restantes integrantes do chamado “núcleo duro” da alegada conspiração, composto por nomes como Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Augusto Heleno, Walter Braga Netto, Almir Garnier e Paulo Sérgio Nogueira. As audiências prosseguem ao longo da semana, sob a condução do ministro Alexandre de Moraes.
M.S.
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