Fome extrema em Gaza ameaça vida de milhares de crianças
- Monica Stahelin
- 25 de jul.
- 3 min de leitura

Unicef e OMS alertam para risco iminente de colapso no tratamento da desnutrição infantil.
Gaza enfrenta uma escassez crítica de alimentos terapêuticos prontos para uso (RUTF), essenciais para salvar a vida de crianças gravemente desnutridas. A situação, descrita como “terrível” por agências humanitárias e pela Organização das Nações Unidas (ONU), poderá atingir um ponto de ruptura já em meados de agosto, caso os suprimentos não sejam reabastecidos com urgência.
De acordo com Salim Oweis, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Amã, a organização dispõe actualmente de quantidade suficiente de RUTF apenas para tratar 3.000 crianças. Este número é manifestamente insuficiente, tendo em conta que, só nas duas primeiras semanas de julho, 5.000 crianças foram tratadas com desnutrição aguda na Faixa de Gaza. Os RUTF, produtos densos em nutrientes e calorias, como pasta de amendoim fortificada e biscoitos energéticos, são um dos poucos tratamentos eficazes disponíveis em contextos de emergência.
Sistema em colapso e assistência humanitária comprometida
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a maioria dos suprimentos destinados ao combate à desnutrição já foi consumida. As reservas que ainda existem estão prestes a esgotar-se, o que poderá forçar a suspensão de programas de prevenção e tratamento nutricional voltados para crianças menores de cinco anos e mulheres grávidas.
Desde março, quando Israel interrompeu a entrada de suprimentos em Gaza, em meio ao conflito com o Hamas, iniciado em outubro de 2023, os stocks alimentares começaram a diminuir drasticamente. Embora o bloqueio tenha sido suspenso em maio, as restrições impostas continuam a limitar severamente o acesso a ajuda humanitária. Segundo agências internacionais, apenas uma fração dos mantimentos necessários tem conseguido entrar no território.
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O governo israelita afirma que tem permitido a entrada de ajuda em quantidade suficiente, mas sublinha a necessidade de fiscalizar os carregamentos para evitar desvios por parte de grupos armados. A Cogat, órgão de coordenação da ajuda militar israelita, declarou estar a colaborar com organizações internacionais para facilitar a entrada e distribuição de assistência humanitária.
Desnutrição aguda grave atinge números alarmantes
O número de crianças internadas com desnutrição aguda em Gaza subiu para mais de 20 mil entre abril e meados de julho, das quais 3.247 apresentam desnutrição aguda grave, quase o triplo dos casos registados no primeiro trimestre do ano. Esta condição representa risco elevado de morte, além de consequências graves e duradouras para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças sobreviventes.
Até agora, 21 crianças com menos de cinco anos morreram por desnutrição confirmada em 2025, segundo a OMS. O Ministério da Saúde de Gaza anunciou ainda que outras duas pessoas faleceram por fome na noite de quarta-feira, elevando para 113 o número total de mortes relacionadas com a falta de alimentos – a maioria registada nas últimas semanas, à medida que a crise se agrava.
A Save the Children, que gere uma clínica na região central de Gaza, declarou que está sem conseguir transportar os seus próprios suprimentos desde fevereiro, dependendo atualmente de entregas feitas pela ONU. A continuidade do trabalho de organizações parceiras do Unicef também está ameaçada, alerta Alexandra Saieh, directora de Política Humanitária da ONG, caso não haja reposição urgente de recursos.
A comunidade internacional tem sido instada a agir com rapidez, numa tentativa de evitar mais mortes num território onde 2,2 milhões de pessoas enfrentam diariamente a fome e a escassez de bens essenciais.
M.S.
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A situação em Gaza é desesperadora. Milhares de crianças enfrentam desnutrição grave, e a escassez de alimentos terapêuticos pode levar a um colapso completo nos tratamentos.