Governo japonês perde maioria no Senado e extrema-direita ganha força
- Monica Stahelin
- 21 de jul.
- 2 min de leitura

A aliança encabeçada pelo primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, enfrentou uma derrota importante nas eleições para a Câmara Alta do Parlamento, que decorreram no domingo, 20 de julho. Segundo estimativas divulgadas por órgãos de comunicação locais, incluindo a estação pública NHK, o Partido Liberal Democrático (PLD) e o seu aliado Komeito asseguraram somente 41 dos 125 lugares em disputa, muito aquém dos 50 necessários para garantir a maioria absoluta.
Este resultado evidencia a crescente insatisfação da população com a situação económica do país, marcada por uma inflação persistente e pelo aumento do custo de vida. Além disso, reflecte o avanço eleitoral do Sanseito, partido de extrema-direita que tem vindo a ganhar protagonismo no cenário político japonês.
Críticas à economia e descontentamento social
A conjuntura económica tem sido um dos principais motivos de contestação à governação de Ishiba. A inflação, que se manteve nos 3,3% em junho (excluindo produtos frescos), tem tido impacto directo nos preços de bens essenciais como o arroz, cujo valor duplicou em apenas um ano. Muitos eleitores demonstraram frustração face à estagnação salarial e à perda do poder de compra, sobretudo entre reformados. “Pagamos muito para sustentar o sistema de pensões. Este é o problema mais urgente”, afirmou Hisayo Kojima, de 65 anos, à saída de uma assembleia de voto em Tóquio.
A tensão diplomática com os Estados Unidos também contribuiu para o desgaste político do executivo. A ameaça de tarifas de 25% sobre produtos japoneses, por parte da administração norte-americana liderada por Donald Trump, agravou a percepção de vulnerabilidade do governo perante desafios externos.
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Ascensão do Sanseito e reconfiguração da direita
O descontentamento popular abriu espaço para o crescimento do Sanseito, formação populista e anti-imigração surgida durante a pandemia. Com forte presença nas redes sociais e uma retórica centrada no slogan "Japão Primeiro", o partido obteve entre 10 e 22 lugares no Senado, após ter apenas dois na legislatura anterior. Este desempenho revela a sua capacidade de atrair eleitores conservadores desencantados, incluindo antigos apoiantes de Shinzo Abe.
O Sanseito propõe medidas mais restritivas em matéria de imigração, críticas ao globalismo e políticas sociais mais conservadoras. Apesar das acusações de simpatia por Moscovo, a direcção do partido negou qualquer ligação com o Kremlin.
A perda da maioria na Câmara Alta deixa o governo de Shigeru Ishiba em minoria nas duas casas do Parlamento, uma situação inédita desde o pós-guerra. Analistas políticos, como Toru Yoshida, da Universidade Doshisha, consideram que o resultado poderá precipitar o fim do actual mandato. Apesar da longa hegemonia do PLD desde 1955, os escândalos de corrupção e a crescente fragmentação ideológica do partido contribuíram para o seu enfraquecimento.
M.S.
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