Imigração: Califórnia mergulha no medo e no caos
- Monica Stahelin
- 18 de jul.
- 3 min de leitura

A tensão social tem vindo a aumentar no sul da Califórnia desde o início de Junho, altura em que o governo federal intensificou as acções de detenção de imigrantes em várias comunidades do estado. A morte de Jaime Alanis, um trabalhador agrícola que, ao tentar fugir a uma rusga, caiu de um telhado e acabou por não resistir aos ferimentos, tornou-se um símbolo da crise humanitária que se agrava na região.
Durante a mesma operação, centenas de manifestantes reuniram-se junto a duas explorações legais de canábis para tentar impedir a acção dos agentes. As autoridades responderam com gás lacrimogéneo, alegando que alguns presentes atiraram pedras e que um deles chegou mesmo a disparar contra agentes federais.
Impacto profundo nas comunidades locais
Desde que o Presidente Donald Trump determinou o aumento da presença da Guarda Nacional e dos Fuzileiros Navais nas ruas da Califórnia, o medo e a insegurança têm-se intensificado. Estima-se que 1,4 milhões de imigrantes indocumentados residam na Califórnia, muitos dos quais vivem agora escondidos, com medo de sair de casa para trabalhar, estudar ou fazer compras.
Vários negócios fecharam portas e múltiplas cidades cancelaram eventos públicos, incluindo as habituais celebrações do Dia da Independência. “Toda a gente está a olhar por cima do ombro”, disse uma vendedora ambulante de raspados em Los Angeles, visivelmente desconfiada, mas grata por ainda ter clientes.
Publicidade
As rusgas nos campos de canábis foram descritas como as maiores desde o início da presidência de Trump. Das 361 pessoas detidas, quatro tinham antecedentes criminais graves. As autoridades encontraram também 14 menores migrantes, que afirmam ter sido “resgatados de potenciais situações de exploração e tráfico humano”.
Contudo, defensores dos direitos dos imigrantes acusam o governo de usar tácticas de intimidação. Muitos dos detidos são residentes de longa data, sem antecedentes criminais, com famílias estabelecidas e contribuições significativas para a economia local.
Comunidades organizam-se e resistem
Carlos, um imigrante guatemalteco, está entre os muitos que vivem em constante receio. A sua irmã foi detida enquanto vendia comida na rua, e agora ele evita sair de casa. “Se fores moreno ou hispânico, eles vêm e levam-te”, afirma.
Face à escalada das acções policiais, várias igrejas e organizações comunitárias têm prestado apoio aos imigrantes, fornecendo alimentos e organizando redes de alerta através de aplicações e redes sociais para informar sobre a presença de agentes.
As demonstrações de força tornaram-se cada vez mais comuns. Em MacArthur Park, dezenas de agentes armados chegaram montados a cavalo e acompanhados por equipas de filmagem. No local, estavam apenas manifestantes, crianças num campo de férias e algumas pessoas em situação de sem-abrigo. A Presidente da Câmara de Los Angeles, Karen Bass, juntou-se aos protestos e exigiu a retirada imediata das forças federais.
Activistas como Betsy Bolte descrevem a situação como uma verdadeira guerra contra os próprios cidadãos. “É intencional. É parte de um plano”, disse, emocionada, após gravar a intervenção das autoridades no parque.
Apesar da resistência, há quem continue a apoiar as políticas de Trump. Um apoiante solitário marcou presença numa das manifestações e acabou por ser agredido pelos restantes manifestantes. Curiosamente, o principal arquitecto destas políticas é Stephen Miller, natural de Santa Mónica, que continua a defender que a Califórnia está a encorajar uma “invasão” do país.
Consequências duradouras
As consequências das rusgas têm-se reflectido em todos os sectores da vida pública. Comércios encerrados, ruas vazias, eventos cancelados e famílias desfeitas tornaram-se parte da nova realidade. Em algumas comunidades, como Huntington Park, as autoridades locais emitiram comunicados apelando à calma, mas reconhecendo o impacto profundo na segurança e bem-estar da população.
Inclusivamente, há relatos de imigrantes detidos à porta de tribunais, quando compareciam para audiências agendadas, como aconteceu com um casal de requerentes de asilo, agora num centro de detenção no Texas.
O Pastor Ara Torosian, de uma igreja evangélica em West LA, afirma que cinco membros da sua congregação foram detidos em Junho. “Eles não são criminosos. Estavam a cumprir tudo, sem esconder nada”, lamentou.
À medida que o debate se intensifica, permanece a incerteza sobre o futuro dos milhões de imigrantes que vivem e trabalham nos Estados Unidos. Para muitos, a promessa de uma vida melhor transformou-se num cenário de medo e silêncio.
M.S.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal da Globe News
É surreal pensar que, ao invés de proteger, o governo está criando um clima de intimidação e incerteza. As comunidades estão resistindo, mas o impacto já é irreversível.