Dalai Lama confirma continuidade da sua sucessão espiritual
- Monica Stahelin
- 2 de jul.
- 2 min de leitura

O líder tibetano garante que apenas o seu escritório detém a autoridade para escolher o sucessor, recusando qualquer intervenção por parte da China.
O Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, confirmou que a instituição com mais de seis séculos de existência continuará após o seu falecimento. Esta decisão, divulgada esta quarta-feira através de um vídeo em Dharamshala, na Índia — onde vive em exílio desde 1959 —, encerra anos de dúvidas sobre o futuro da sucessão da principal autoridade religiosa tibetana.
Num discurso muito esperado pelos seus seguidores, o Dalai Lama reforçou que só o Gaden Phodrang Trust, criado por si, possui a legitimidade para levar a cabo o processo de identificação do seu sucessor, em conformidade com os rituais e costumes tibetanos. “Ninguém mais tem autoridade para interferir nesta matéria”, afirmou.
Celebrações e oposição chinesa
A declaração surge durante as celebrações do seu 90.º aniversário, segundo o calendário lunar tibetano, que decorrem em Dharamshala até 6 de julho. Mais de sete mil convidados, entre eles ministros indianos e o ator norte-americano Richard Gere, marcaram presença na cerimónia.
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A emissão, feita no Centro de Arquivos e Biblioteca do Dalai Lama, juntou centenas de monges e devotos. Muitos manifestaram sentimento de alívio e emoção perante a notícia. “Senti-me abençoado por ouvir estas palavras pessoalmente”, disse Tsayang Gyatso, empresário tibetano residente em Nova Deli.
Entretanto, Pequim reagiu com firmeza, rejeitando a legitimidade da decisão. O governo chinês reafirmou que a escolha do sucessor deve seguir as “leis e regulamentos chineses”, além dos “rituais religiosos e convenções históricas”, sublinhando que o futuro Dalai Lama deverá ser aprovado por Pequim.
Disputa pela legitimidade da sucessão
O Dalai Lama, laureado com o Prémio Nobel da Paz, sempre defendeu uma “via do meio” para o Tibete, propondo autonomia genuína sob soberania chinesa. Ainda assim, é considerado por Pequim como um separatista.
A hipótese de existirem dois sucessores — um nomeado pelas autoridades chinesas e outro pelos tibetanos no exílio — suscita receios relativos a uma crise de legitimidade. Especialistas alertam que a China poderá tentar impor um “Dalai Lama reconhecido por Pequim”, mas este dificilmente será aceite pela comunidade budista tibetana e pela maioria da comunidade internacional.
Youdon Aukatsang, deputada no parlamento tibetano no exílio, considera que “Pequim falhou em conquistar os corações e mentes do povo tibetano” e que um Dalai Lama imposto pela China “não será reconhecido, nem pelos tibetanos, nem pelo mundo”.
M.S.
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