Desnutrição crónica afeta metade das crianças no sul de Angola
- Monica Stahelin
- 15 de jul.
- 2 min de leitura

Quase 50% das crianças com menos de cinco anos no sul de Angola sofrem de desnutrição crónica, segundo um estudo da Universidade do Porto, que revela um cenário preocupante de insegurança alimentar nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe. Apenas 3,5% das crianças da região têm uma alimentação considerada minimamente aceitável.
A investigação, publicada na Acta Portuguesa de Nutrição, envolveu investigadores da Universidade do Porto, em colaboração com o Ministério da Saúde de Angola e especialistas do programa FRESAN/Camões, I.P. Com base em dados recolhidos ao longo dos últimos 15 anos, o estudo conclui que “o estado nutricional e as práticas alimentares de crianças com menos de 5 anos aparentam ter piorado”.
Prevalência elevada e metas por cumprir
De acordo com os autores, a taxa de desnutrição crónica atinge 47,1%, com valores particularmente elevados nas províncias da Huíla e do Cunene. A desnutrição aguda global (DAG) também se mantém acima dos níveis recomendados, com 19,3% na Huíla e 12,4% no Cunene, segundo dados de 2021.
O estudo destaca que a DAG estimada no sul de Angola (9,0%) duplica a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde para 2025, que é inferior a 5%.
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Outro indicador preocupante refere-se à qualidade da alimentação infantil. Apenas 3,5% das crianças entre os 6 e os 23 meses consomem alimentos de pelo menos quatro grupos alimentares e realizam o número mínimo de refeições recomendado, conforme os critérios da Dieta Mínima Aceitável. Os investigadores alertam para um “decréscimo da diversidade e da frequência alimentar” nesta faixa etária.
Aleitamento materno regista bons resultados
Apesar do cenário preocupante, o estudo destaca um progresso significativo: a prática do aleitamento materno exclusivo até aos seis meses revela-se elevada, com uma taxa de 73,1% no Cunene e 63,2% na Huíla. Estes números superam a meta de 50% estabelecida pela Organização Mundial da Saúde.
Os autores do trabalho relacionam os elevados níveis de desnutrição à grave insegurança alimentar provocada pela seca prolongada que afeta a região, sublinhando a necessidade de medidas urgentes. Entre as soluções propostas estão o acompanhamento regular do estado nutricional infantil, a análise detalhada dos hábitos alimentares das crianças e a valorização da formação em nutrição dirigida aos profissionais de saúde.
A investigação integrou-se no programa FRESAN, Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional, uma iniciativa do Governo de Angola com financiamento da União Europeia no valor de 65 milhões de euros. O projecto, em curso desde 2018 até 2025, visa combater a fome e reduzir a pobreza nas zonas mais afetadas do sul do país.
M.S.
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