Elvino Dias homenageado com Prémio Mandela após morte
- Monica Stahelin
- 18 de jul.
- 3 min de leitura

A ProPública exige investigação ao homicídio que chocou Moçambique e marcou a cena política pós-eleitoral.
O jurista moçambicano Elvino Dias foi homenageado esta sexta-feira com o Prémio Nelson Mandela 2025, concedido pela organização portuguesa ProPública, Direito e Cidadania, durante uma cerimónia restrita realizada em Maputo.
O galardão é entregue a título póstumo, nove meses após o trágico assassinato do jurista, conhecido em Moçambique como o “advogado do povo”, devido à sua dedicação às causas sociais e à defesa dos mais desfavorecidos.
Elvino Dias foi morto na noite de 18 de outubro de 2024, numa emboscada no centro de Maputo, quando o veículo em que seguia foi intercetado por duas viaturas. Indivíduos armados dispararam, causando a morte do advogado de 45 anos e de Paulo Guambe, representante do partido Podemos. Os dois estavam envolvidos na campanha presidencial de Venâncio Mondlane, que decorria na altura das eleições gerais. Até hoje, as autoridades moçambicanas não apresentaram conclusões ou suspeitos, num caso que tem vindo a ser associado a motivações políticas.
"A voz calou-se, mas o exemplo permanece"
Na mensagem enviada à cerimónia de entrega do prémio, o presidente da ProPública, Agostinho Pereira de Miranda, instou as autoridades moçambicanas, em particular o procurador-geral da República, a prosseguirem com urgência a identificação dos responsáveis pelo homicídio. “É essencial garantir justiça, independência e liberdade para os advogados em Moçambique”, declarou.
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A presidente da ProPública sublinhou o legado deixado por Elvino Dias, destacando o seu compromisso com os Direitos Humanos e com a justiça social. “A voz de Elvino Dias calou-se, mas o seu exemplo de coragem, independência e integridade continuará a inspirar advogados em Moçambique e em todo o mundo.”
O bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), Carlos Martins, prestou igualmente homenagem ao jurista, destacando-o como um autêntico defensor da democracia. “O seu palco era nos tribunais. Deixa-nos um legado pesado, mas valioso, assente nos valores da verdade, do direito e da justiça”, afirmou, acrescentando que a investigação à sua morte não pode ser adiada.
Justiça exigida nas ruas e no mundo jurídico
A atribuição do Prémio Nelson Mandela surge num contexto ainda marcado por tensões políticas e sociais em Moçambique. O assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe intensificou a contestação pós-eleitoral, com protestos que resultaram em confrontos violentos, destruição de bens e, segundo estimativas, cerca de 400 mortos em cinco meses. A 23 de outubro, milhares de pessoas participaram nas cerimónias fúnebres de Elvino Dias no cemitério de Michafutene, gritando palavras como “justiça” e “advogado do povo”, num último tributo ao jurista.
Criado para reconhecer o contributo de personalidades na defesa do interesse público e dos direitos fundamentais, o Prémio Nelson Mandela já distinguiu, em edições anteriores, figuras como Francisco Teixeira da Mota, Leonor Caldeira, Maria Clotilde Almeida, Paula Penha Gonçalves e Garcia Pereira.
A memória de Elvino Dias, agora inscrita neste prestigiado galardão, reacende o apelo a uma resposta clara das autoridades moçambicanas perante um crime que abalou profundamente o país e a sua jovem democracia.
M.S.
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