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Famílias fogem de ataques em Cabo Delgado: histórias de coragem e perdas

Pai caminha 50 quilómetros com sete filhos, deixando filha para trás em fuga de terroristas
Famílias fogem de ataques em Cabo Delgado: histórias de coragem e perdas © Cedida

Pai caminha 50 quilómetros com sete filhos, deixando filha para trás em fuga de terroristas


Um novo ciclo de violência em Cabo Delgado, norte de Moçambique, forçou mais de 57 mil pessoas a abandonarem as suas casas entre 20 de julho e 3 de agosto. Entre as histórias de quem fugiu está a de Afonso Vasco, um camponês de 49 anos, que percorreu 50 quilómetros a pé com sete dos seus filhos e a esposa, depois de perder de vista a filha de 12 anos durante o caos.


A família vivia em Magaia, localidade próxima do posto administrativo de Chiúre Velho, ambos alvos de ataques no mesmo dia, 24 de julho. Afonso lembra-se de fugir sem levar alimentos nem pertences, apenas guiado pelo instinto de sobrevivência. “Este ano produzi ervilha, milho, mandioca e ficou tudo lá. Estou a viver grão a grão”, contou, já instalado no centro de trânsito improvisado na Escola Primária Completa dos Coqueiros, na vila de Chiúre.


O reencontro com Adelina

A filha, Adelina, perdeu-se da família durante a fuga noturna por trilhos de mata. Desesperado, Afonso passou três dias à sua procura em aldeias vizinhas, centros de acolhimento e até na rádio local, sem sucesso. O reencontro aconteceu inesperadamente, graças à ajuda de uma mulher desconhecida que também fugia dos ataques. “Quando encontrei a minha filha fiquei alegre, fiquei alegre mesmo”, relatou o camponês emocionado.


Tentou recompensar a mulher, mas ela recusou qualquer valor, sugerindo que o usasse para alimentar a família.


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Fugas forçadas repetem-se

Como Afonso, milhares de outras pessoas caminharam dezenas de quilómetros para chegar a zonas consideradas seguras. Mussa António, carpinteiro de 29 anos, fugiu com a esposa e quatro filhos, mas perdeu dois irmãos durante a fuga. Foi a terceira vez que teve de abandonar tudo. “Se atacarem vou fugir de novo”, declarou, com pesar.


Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), entre os mais de 57 mil deslocados estão 490 grávidas, 1.077 idosos, 191 pessoas com mobilidade reduzida e 126 crianças separadas dos pais. A prioridade, dizem os agentes humanitários, é garantir alimentação, abrigo e itens essenciais aos sobreviventes.


Terror persiste na região

Os ataques, reivindicados por grupos associados ao Estado Islâmico, incluem decapitações e destruição de comunidades inteiras. As forças de defesa continuam no terreno, mas a população, marcada pelo trauma e pelas perdas, vive entre a incerteza e o desejo de regressar às origens.


A província de Cabo Delgado, rica em recursos naturais, enfrenta uma insurgência armada desde 2017, que já provocou milhares de mortes e mais de um milhão de deslocados internos.


B.N.


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