Hiroshima recorda 80 anos: histórias de dor e resistência
- Monica Stahelin
- há 6 dias
- 3 min de leitura

O Japão assinala esta quarta-feira, 6 de agosto, os 80 anos do bombardeamento atómico de Hiroshima, episódio trágico que vitimou cerca de 140 mil pessoas em 1945. O ataque, perpetrado pelos Estados Unidos durante os últimos momentos da Segunda Guerra Mundial, continua a deixar marcas profundas na sociedade japonesa, não só pela destruição causada, mas também pela discriminação persistente enfrentada pelos sobreviventes, conhecidos como hibakusha.
Passados três dias após o bombardeamento de Hiroshima, Nagasaki também foi atingida por uma bomba atómica, resultando na morte de cerca de 74 mil pessoas. Até ao momento, estes dois ataques nucleares continuam a ser os únicos a ocorrer durante um conflito armado na história.
Estigma e exclusão social
Além das consequências físicas da exposição à radiação, muitos hibakusha enfrentaram décadas de marginalização social. Havia a convicção de que essas pessoas estavam em risco de sofrer doenças graves, como leucemia ou cancro, o que fez com que muitos patrões evitassem contratá-las. Esta desconfiança estendeu-se também às mulheres, frequentemente vistas como inférteis ou incapazes de ter filhos saudáveis.
Matsuyoshi Ikeda, sobrevivente de Hiroshima, recorda que muitos não conseguiram trabalho após o ataque. Já Tomoko Matsuo, de 92 anos, sublinha o impacto do preconceito na vida pessoal de muitas mulheres: “Muitos homens recusavam-se a casar com sobreviventes por medo das consequências da radiação”.
Reconhecimento limitado e apelos por justiça
A discriminação não se limita ao convívio social. Milhares de pessoas que estavam em Hiroshima ou Nagasaki nos dias dos bombardeamentos ainda não são oficialmente reconhecidas como vítimas, por não se encontrarem dentro do perímetro definido pelo governo japonês. Esta exclusão impede o acesso gratuito a cuidados médicos, sendo vista como uma “discriminação de Estado”.
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Shiro Suzuki, presidente da câmara de Nagasaki, critica a rigidez dos critérios oficiais, defendendo que a radiação afectou pessoas mesmo a quilómetros de distância do ponto de impacto. A associação Nihon Hidankyo, laureada com o Prémio Nobel da Paz em 2024, exige mudanças urgentes, alertando para o envelhecimento dos sobreviventes não reconhecidos.
Cerimónia internacional e apelo à paz
A cerimónia dos 80 anos em Hiroshima conta com representantes de 120 países e regiões, incluindo a União Europeia. Embora algumas potências nucleares como a Rússia, China e Paquistão tenham optado por não participar, outras nações, como o Irão, confirmaram presença. Pela primeira vez, Palestina e Taiwan, que não têm reconhecimento oficial por parte do Japão, marcarão presença na representação.
O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, aproveitou a ocasião para criticar a crescente militarização em vários pontos do globo, referindo-se aos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente. “A existência de líderes que acreditam na força militar como solução dificulta a construção de uma paz duradoura”, afirmou.
Hiroshima, hoje uma cidade moderna com 1,2 milhões de habitantes, mantém no seu centro o esqueleto do antigo Domo da Bomba Atómica como símbolo de memória e advertência. Já em Nagasaki, a cerimónia marcada para sábado deverá contar com número recorde de delegações, incluindo a da Rússia, ausente desde 2022.
Toshiyuki Mimaki, copresidente da Nihon Hidankyo, convida os representantes estrangeiros a visitarem o Museu Memorial da Paz, na esperança de que possam perceber a profundidade humana da tragédia causada pela nuvem em forma de cogumelo.
M.S.
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