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Recorde de internamentos sociais nos hospitais públicos de Portugal

Médico vestindo jaleco branco segura um estetoscópio vermelho, com os braços cruzados.
Recorde de internamentos sociais nos hospitais públicos de Portugal © senivpetro via Freepik

Mais de 2300 doentes com alta continuam internados por falta de resposta social. Custos ultrapassam os 288 milhões de euros por ano.


Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) atingiram, em março deste ano, o número mais elevado de sempre de internamentos sociais — situações em que os doentes já têm alta clínica, mas permanecem hospitalizados por não terem alternativa fora do hospital. De acordo com a 9.ª edição do Barómetro dos Internamentos Sociais, havia, a 19 de março, 2342 pessoas internadas indevidamente, o que representa um aumento de 8% face ao ano anterior.


Estes casos prolongam-se, em média, por cinco meses e ocupam 11,7% das camas hospitalares disponíveis, comprometendo a capacidade de resposta do SNS e agravando os custos com cuidados de saúde. Os dias de internamento considerados inapropriados totalizam, só este ano, mais de 367 mil. A despesa estimada com estas situações ronda os 290 milhões de euros anuais, um valor que, segundo a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), está subestimado por não considerar os impactos indiretos no sistema.


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Uma questão social que urge colocar no centro do debate

O presidente da APAH, Xavier Barreto, voltou a apelar para que esta realidade seja colocada no centro do debate político, especialmente tendo em conta o envelhecimento da população e a crescente dependência de cuidados. Embora reconheça que “não se resolvem problemas estruturais em 11 meses”, considera que o tema tem sido repetidamente esquecido nos programas eleitorais.


“Temos o número mais elevado de sempre de internamentos sociais”, alertou, defendendo que os milhões de euros atualmente gastos em internamentos desnecessários poderiam ser canalizados para apoiar as famílias e cuidadores informais.


Entre as soluções apontadas está o reforço da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, o investimento em cuidados domiciliários sociais — com equipas que prestem apoio direto em casa, incluindo cuidados de higiene e refeições — e o apoio alargado aos cuidadores informais.


Lisboa e Norte concentram 80% dos internamentos sociais

As regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte continuam a ser as mais afetadas, concentrando juntas 80% do total de internamentos sociais. Lisboa registou uma subida da taxa de 36% para 40%, enquanto o Norte, apesar de continuar com números elevados, baixou de 47% para 40%. O Centro representa 13% dos casos e o Alentejo e o Algarve 3% cada.


Dos 41 hospitais públicos analisados — representando 96% das camas do SNS —, 21 já recorrem ao pagamento de vagas em instituições privadas e sociais, num total de 914 camas destinadas a doentes com alta clínica que não têm para onde ir. Além disso, 1050 doentes foram encaminhados ao abrigo de uma portaria de 2023, que permite acolhimento temporário em lares e outras estruturas residenciais do setor social.


Perfil dos doentes e causas da permanência hospitalar

Segundo o barómetro, os internamentos sociais afetam homens e mulheres de forma semelhante, mas incidem especialmente em pessoas com mais de 65 anos (74%) e em utentes dos serviços de Medicina Interna (50%).


A principal causa para a permanência hospitalar indevida é a falta de resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (38%). Segue-se a demora na atribuição de vaga em Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI), que representa 29% dos casos.


O retrato traçado pelo estudo da APAH, em colaboração com a EY Portugal, será apresentado esta terça-feira na Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra e visa reforçar o alerta para um problema estrutural, que afeta milhares de doentes e representa uma pressão insustentável sobre o SNS.


M.S.


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