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Gritar com as crianças pode danificar o cérebro, alertam especialistas

Criança cobrindo o rosto com as mãos
Gritar com as crianças pode danificar o cérebro, alertam especialistas © Enigma/Alamy

A exposição ao abuso verbal por parte dos pais pode provocar alterações biológicas no cérebro das crianças e torná-las mais propensas a problemas de saúde mental, além de dificultar a formação de amizades e relações interpessoais, alertaram especialistas ao Parlamento do Reino Unido, nesta segunda-feira.


Impacto das palavras na formação do cérebro infantil

Professores, psicólogos e especialistas em desenvolvimento infantil reuniram-se no encontro para destacar as consequências a longo prazo do abuso verbal. Segundo o professor Eamon McCrory, psicólogo clínico e especialista em neurociência do desenvolvimento, as palavras agressivas, humilhantes ou desdenhosas de adultos podem moldar negativamente a forma como a criança se vê e interage com o mundo.

"Quando crianças, acreditamos no que nos dizem, profundamente incorporando as palavras dos adultos na nossa compreensão de nós mesmos e do mundo à nossa volta", explicou McCrory.

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O professor afirmou ainda que estudos de neuroimagem, utilizando ressonância magnética funcional, mostraram que a exposição prolongada ao abuso verbal altera tanto os circuitos de "ameaça" quanto os de "recompensa" no cérebro infantil, áreas fundamentais para a navegação do mundo e para a construção de relações saudáveis. Como consequência, crianças expostas a abusos verbais podem começar a interpretar sinais neutros, como piadas ou expressões faciais, como ameaças, levando-as a se afastar socialmente ou a reagir de forma agressiva para se proteger.


O abuso verbal como forma de violência prevalente

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o abuso emocional, incluindo o verbal, é uma forma de violência contra crianças, sendo a mais comum e prevalente entre os tipos de maus-tratos. Um estudo realizado no Reino Unido em 2023 revelou que cerca de 41% das crianças no país são expostas ao abuso verbal, seja ocasionalmente ou de forma regular.


Além disso, a professora Andrea Danese, especialista em psiquiatria infantil e adolescente do King’s College London, destacou que o famoso ditado "pau que bate em Chico, bate em Francisco" está errado.

"As palavras podem prejudicar o bem-estar e o desenvolvimento da criança e deixar cicatrizes psicológicas duradouras", afirmou Danese. "Palavras encorajadoras podem inspirar a criança a aprender e a crescer, enquanto o abuso verbal pode distorcer a compreensão da criança sobre quem ela é e qual o seu papel no mundo."

Sharon Hodgson, deputada do Partido Trabalhista e ex-ministra da Saúde, destacou a importância de se dar atenção a este problema, que muitas vezes permanece "fora dos radares" da sociedade, mas que causa danos significativos e duradouros.

"O abuso verbal é uma das causas mais preveníveis de problemas de saúde mental", afirmou Peter Fonagy, professor da Universidade College London.

Ação governamental e estratégias de prevenção

Jessica Bondy, fundadora da organização Words Matter, pediu ação do governo britânico, apontando que as evidências científicas mostram claramente os danos profundos que o abuso verbal causa nos cérebros em desenvolvimento das crianças.

"Se o governo realmente deseja ter a geração mais saudável da história, o combate ao abuso verbal deve ser uma parte central da estratégia nacional de saúde mental", concluiu.

O Departamento de Educação foi contactado para comentar a situação, mas ainda não se pronunciou.


M.S.


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