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Brasil dá asilo a Nadine e gera crise com o Peru

Ollanta Humala
Brasil dá asilo a Nadine e gera crise com o Peru ©Reuters

Decisão do governo brasileiro foi alvo de duras manchetes na imprensa peruana. Heredia chegou a Brasília após salvo-conduto emitido por Lima, enquanto o marido, Ollanta Humala, iniciou cumprimento de pena.


Imprensa peruana reage com indignação ao gesto de Brasília

A concessão de asilo diplomático por parte do Brasil à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, provocou forte reacção nos principais jornais peruanos. Heredia, condenada a 15 anos de prisão por crimes de lavagem de dinheiro, refugiou-se na Embaixada do Brasil em Lima antes da leitura da sentença e obteve um salvo-conduto do governo peruano para se instalar em território brasileiro.


Heredia, esposa do ex-presidente Ollanta Humala — que governou o país entre 2011 e 2016 —, foi condenada na sequência de um processo que investigou financiamento ilícito das campanhas presidenciais do casal, com verbas provenientes da construtora Odebrecht e do então governo venezuelano liderado por Hugo Chávez. O ex-presidente também foi condenado a 15 anos de prisão e já se encontra detido numa base policial em Lima, reservada a antigos chefes de Estado.


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A imprensa peruana reagiu com indignação ao gesto do governo de Brasília. O jornal Diario Trome estampou a manchete “Entre corruptos, se protegem”, enquanto o Correo afirmou que a decisão brasileira representa uma “zombaria da justiça”. Já o El Comercio publicou declarações do ex-chanceler Francisco Tudela, que considerou o asilo “irregular” e criticou a sua concessão a alguém que “não se qualifica para o benefício”.


Justificativa humanitária e histórico político de Heredia reacendem polémica

O governo brasileiro, por intermédio do ministro dos Negócios Estrangeiros, Mauro Vieira, justificou o asilo com base em “razões humanitárias”. A defesa de Heredia alega que a ex-primeira-dama sofre de um cancro e já havia solicitado anteriormente autorização judicial para viajar ao Brasil e realizar tratamento médico, pedido que foi recusado. Durante o processo, Heredia respondia em liberdade, mas não compareceu à audiência de leitura da sentença. A polícia peruana localizou-a posteriormente na Embaixada do Brasil em Lima, onde já se encontrava a aguardar decisão diplomática.


Além de Heredia, o Brasil concedeu também asilo ao filho mais novo do casal. O salvo-conduto foi emitido com base na Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, da qual tanto o Peru como o Brasil são signatários. O Ministério das Relações Exteriores do Peru afirmou que a medida foi tomada após garantias prestadas pelo Brasil relativamente ao estado de saúde da ex-primeira-dama e à protecção da criança.


No mesmo processo judicial, Ilán Heredia, irmão de Nadine e cunhado de Humala, foi condenado a 12 anos de prisão. Segundo a acusação, Nadine Heredia desempenhou papel activo nas actividades ilícitas do Partido Nacionalista Peruano, tendo coordenado a arrecadação de fundos ilegais durante o mandato presidencial do marido. A defesa nega todas as acusações.


Esta não é a primeira vez que Heredia enfrenta questões legais. Após o final do mandato de Humala, chegou a ocupar uma posição de destaque na agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), mas demitiu-se na sequência das investigações por corrupção. Nascida numa família abastada e com formação em comunicação social e sociologia, Heredia foi uma figura central durante o governo do marido, alimentando inclusive rumores sobre uma possível candidatura presidencial, que nunca se concretizou.


O advogado de Humala, Wilfredo Pedraza, já anunciou que irá recorrer da sentença, que considerou "excessiva". A leitura completa da decisão judicial deve ser concluída até ao fim de abril. Além da pena de prisão, Humala foi condenado ao pagamento de uma multa no valor de 10 milhões de soles, equivalente a cerca de 15,7 milhões de reais.


O caso reacende o debate sobre a influência política de líderes estrangeiros e sobre o uso do asilo diplomático em contextos judiciais. O Peru, que já viu diversos ex-presidentes condenados por corrupção — entre eles Alejandro Toledo, Pedro Castillo e Alberto Fujimori —, soma agora mais um capítulo polémico na sua turbulenta história política recente.


B.N.


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