Cartel usou pandemia para importar droga em massa
- Beatriz S. Nascimento
- há 4 dias
- 3 min de leitura

Nem as fronteiras fechadas nem o confinamento imposto pela pandemia de covid-19 foram suficientes para travar a ação de uma poderosa rede de tráfico internacional de droga, liderada por Hélder Bianchi, ex-líder do extinto Gangue de Valbom, e Eldini Araújo, conhecida como “Dini de Braga”. Entre março e junho de 2020, período de maior restrição à circulação, os dois conseguiram importar grandes quantidades de cocaína da Colômbia e haxixe de Marrocos. O Ministério Público do Porto acusa agora 12 pessoas de pertencerem a esta organização criminosa.
A rede utilizava sofisticadas estratégias logísticas e tecnológicas para garantir o transporte e distribuição da droga, tirando partido do aumento dos preços causado pela escassez no mercado europeu durante a pandemia. Só a Bianchi e Dini, o MP exige mais de um milhão de euros, considerando os lucros gerados pelas operações.
“Go fast” e fugas frustradas
A investigação teve início em janeiro de 2020, com a Polícia Judiciária (PJ) a identificar movimentações de uma rede composta por portugueses, espanhóis e marroquinos. Em julho do mesmo ano, a PJ interceptou um carregamento de 745 quilos de haxixe nas imediações da Quarteira, transportados num Audi SQ5 furtado, conduzido por um dos homens de confiança de Bianchi. A viatura, parte de um “go fast” – técnica que utiliza veículos de apoio para evitar a ação das autoridades – acabaria por embater num carro da PJ após uma tentativa de fuga. Os fardos foram escondidos na vegetação, mas acabariam por ser localizados e apreendidos. Uma impressão digital de Bianchi foi encontrada no veículo.
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Apesar de inicialmente fugir, Bianchi viria a ser detido em Braga, em novembro de 2021. Chegou a sair em liberdade mediante o pagamento de uma caução de 80 mil euros, mas novos dados obtidos no decurso das investigações reforçaram o seu envolvimento.
Sistema Encrochat expôs os bastidores
As autoridades conseguiram aceder aos telemóveis encriptados da rede, que utilizava o sistema Encrochat – uma plataforma utilizada quase exclusivamente por redes criminosas internacionais, encerrada após uma operação das autoridades francesas. Cada aparelho custava cerca de mil euros e exigia uma assinatura semestral de 1.500 euros.
As comunicações extraídas dos dispositivos permitiram à PJ traçar o modo de operação da rede e confirmar diversas remessas de droga. Bianchi terá coordenado, por exemplo, a compra e distribuição de 200 quilos de cocaína em abril de 2020, adquirida em Bogotá por cerca de 6 mil dólares por quilo, e revendida em Portugal por valores entre os 27 mil e os 29 mil euros. O grupo também utilizava cargas de produtos congelados, como moelas, para dissimular o transporte da droga por via aérea ou marítima.
Já Dini, por sua vez, organizava o transporte de milhares de quilos de haxixe diretamente de Marrocos.
Bens incompatíveis com os rendimentos
A investigação apurou que Bianchi, atualmente a cumprir uma pena de dois anos e meio de prisão por outros crimes, possui um património considerado incongruente no valor de 816 mil euros. No sistema Encrochat, utilizava o pseudónimo “Rivaracing”, enquanto Dini era apelidada de “Comercial”.
Ambos os líderes da organização enfrentam agora acusações formais de tráfico internacional de estupefacientes. As autoridades consideram que a atuação da rede, especialmente durante o confinamento, revela um grau elevado de organização, planeamento e perigo para a saúde pública.
B.N.
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