Comida Cultivada em Laboratório Pode Chegar ao Reino Unido
- Monica Stahelin
- 11 de mar.
- 3 min de leitura

O Reino Unido está na vanguarda do desenvolvimento de produtos cultivados em laboratório, conhecidos como produtos cultivados a partir de células (CCPs, na sigla em inglês), mas as empresas enfrentam dificuldades para obter a aprovação da Food Standards Agency (FSA). Contudo, há uma expectativa crescente de que esses alimentos possam ser aprovados para consumo humano no país dentro de dois anos.
Já é uma realidade que empresas no Reino Unido estão produzindo produtos como almôndegas, gordura animal e outros alimentos em laboratórios, embora tenham enfrentado obstáculos regulatórios para obter a aprovação necessária para comercializá-los. Recentemente, a FSA anunciou que uma equipa de cientistas e especialistas em regulamentação começará a reunir "evidências científicas rigorosas" sobre esses produtos e os métodos de produção.
A agência destacou que está comprometida em concluir uma "avaliação completa de segurança" para dois alimentos cultivados em laboratório, o que permitiria a sua comercialização no Reino Unido dentro do prazo de dois anos.
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Como os alimentos são produzidos
Os alimentos cultivados em laboratório, como hambúrgueres, bifes, salsichas e salmão, são desenvolvidos a partir de pequenas células animais por cientistas que trabalham em instalações especializadas. Esses produtos são conhecidos como CCPs e não utilizam métodos tradicionais de agricultura, como a criação de gado.
Os meios de produção dos alimentos cultivados em laboratório apresentam fortes credenciais ambientais, uma vez que não exigem grandes áreas de terra e resultam em emissões de gases de efeito estufa significativamente menores do que a pecuária convencional. Além disso, cientistas sugeriram que o conteúdo nutricional das carnes cultivadas pode ser alterado para torná-las mais saudáveis do que os produtos de origem animal.
Temores entre os agricultores e desafios regulatórios
Apesar das vantagens ambientais e nutricionais potenciais, há preocupações entre os agricultores de animais, que temem que a carne cultivada em laboratório represente uma ameaça adicional às suas fontes de rendimento. Além disso, existe uma crescente preocupação com o consumo de alimentos ultra-processados, o que tem gerado críticas ao avanço dos CCPs.
Embora países como Singapura, Israel e algumas regiões dos Estados Unidos já tenham aprovado a carne cultivada em laboratório para consumo humano, o Reino Unido, apesar de ser um líder na produção desses produtos, ainda os permite apenas em alimentos para animais.
A iniciativa da FSA e os próximos passos
Na segunda-feira, a FSA anunciou o seu "programa pioneiro para produtos cultivados a partir de células", que envolverá oito empresas do setor de alimentos cultivados em laboratório. Três dessas empresas são do Reino Unido: Hoxton Farms, Roslin Technologies e Uncommon. As outras cinco empresas participantes são BlueNalu (EUA), Mosa Meat (Países Baixos), Gourmey e Vital Meat (França) e Vow (Austrália). O programa da FSA ocorre meses depois de a Agência de Inovação do Reino Unido (UKRI) ter investido 15 milhões de libras no recém-formado National Alternative Protein Innovation Centre (NAPIC), em agosto.
Em 2023, a repórter de clima da Sky News, Victoria Seabrook, uma "vegetariana mal sucedida", experimentou almôndegas de porco produzidas em laboratório pela startup Ivy Farm, com sede em Oxford. Ela ficou impressionada com o sabor e a textura do produto, que apresentava uma crosta autêntica e suculência, semelhantes às almôndegas de carne tradicional.
A segurança e inovação no desenvolvimento dos CCPs
Comentando o programa da FSA, o professor Robin May, conselheiro científico-chefe da agência, enfatizou que a "inovação segura" é um dos pilares da iniciativa.
"Ao priorizar a segurança do consumidor e garantir que novos alimentos, como os CCPs, sejam seguros, podemos apoiar o crescimento de setores inovadores. Nosso objetivo é fornecer aos consumidores uma maior variedade de opções alimentares, mantendo os mais altos padrões de segurança."
O ministro da Ciência, Lord Patrick Vallance, declarou que o apoio ao desenvolvimento seguro de produtos cultivados em laboratório não só dá confiança às empresas para inovar, mas também acelera a posição do Reino Unido como líder global na produção sustentável de alimentos.
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Jim Mellon, presidente executivo da Agronomics, uma empresa que investe em empresas de alimentos cultivados, elogiou o avanço do Reino Unido no setor, mas alertou para a necessidade de acelerar o processo de avaliação da FSA.
"Sem essa agilidade, o Reino Unido corre o risco de perder a oportunidade de criar uma indústria competitiva, impulsionar o crescimento de baixo carbono, melhorar a segurança alimentar e se tornar líder na meta de emissão líquida zero na indústria alimentícia", afirmou.
M.S.
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