top of page

Crise alimentar no Reino Unido afeta mais de 14 milhões de pessoas


A mulher na imagem está em um corredor de prateleiras cheias de alimentos enlatados e embalados, como os encontrados em um banco de alimentos ou despensa comunitária.
Crise alimentar no Reino Unido afeta mais de 14 milhões de pessoas © Dan Prince/Trussell

Mais de um quarto das crianças vivem em lares onde se salta refeições devido a dificuldades financeiras.


A crise alimentar no Reino Unido atingiu níveis alarmantes, com mais de 14 milhões de pessoas a viverem em insegurança alimentar por não conseguirem suportar os custos de uma alimentação adequada.


A situação, descrita como uma “falência política escandalosa” por vários ativistas e políticos, afeta especialmente as crianças e trabalhadores de baixos rendimentos.


Segundo um relatório recente da rede de bancos alimentares Trussell Trust, 3,8 milhões de crianças – cerca de 27% – vivem atualmente em lares onde os adultos são obrigados a reduzir ou a saltar refeições devido à pressão financeira. O número representa um aumento significativo face a 2022, quando 11,6 milhões de pessoas enfrentavam a mesma realidade, e evidencia o agravamento da crise do custo de vida no país.


Trabalho já não garante proteção contra a fome

O relatório, baseado numa sondagem Ipsos realizada a cerca de 4.000 adultos que recorreram a bancos alimentares em meados de 2024, revela ainda que 30% das famílias utilizadoras destes serviços têm pelo menos um membro com emprego, demonstrando que o trabalho já não garante proteção contra a privação.


A crise afeta de forma desigual diferentes tipos de habitação: 44% das pessoas em habitação social enfrentam insegurança alimentar, contra 28% dos arrendatários privados e apenas 8% dos proprietários. Além disso, cerca de 31% das crianças com cinco anos ou menos vivem em agregados familiares em situação de fome.


Entre os principais fatores apontados estão os baixos salários, a insuficiência dos apoios sociais, o aumento das rendas e os custos elevados da energia. As organizações apelam a uma intervenção urgente por parte do governo trabalhista, nomeadamente através da revogação do limite de dois filhos nos apoios sociais, uma política herdada dos Conservadores que impede muitas famílias de receberem subsídios para o terceiro filho ou seguintes.


Publicidade


Promessas por cumprir e pressões políticas crescentes

Apesar de o Partido Trabalhista, agora no poder, ter prometido acabar com a “chaga moral” da dependência de bancos alimentares e ter anunciado uma estratégia ambiciosa contra a pobreza infantil, a apresentação do plano foi adiada da primavera para o outono.


Especialistas alertam que, sem medidas concretas, o número de crianças em situação de pobreza poderá ser maior no final desta legislatura do que quando os Trabalhistas assumiram o governo. Alison Garnham, diretora executiva do Child Poverty Action Group, sublinha que o limite de dois filhos está a lançar “mais de 100 crianças por dia na pobreza” e que “milhares de famílias sentem que as promessas do governo são vãs”.


Helen Barnard, responsável pela área de política e impacto na Trussell, considera que a fome “não é uma tendência inevitável, mas o resultado de sistemas que precisam de ser urgentemente reformulados”.


Em resposta, o Ministério do Trabalho e Pensões garantiu estar a investir na expansão das refeições escolares gratuitas, no apoio alimentar durante as férias escolares e na modernização dos centros de emprego. Foi ainda prometida a publicação de uma estratégia para combater a pobreza infantil ainda este ano.


No entanto, as críticas mantêm-se. A deputada trabalhista Kim Johnson classificou a crise como uma “falência política”, associando-a a anos de austeridade, trabalho precário e um sistema de segurança social ineficaz. Já Rachael Maskell, deputada independente, alertou para a urgência de medidas mais ambiciosas, nomeadamente no combate aos custos crescentes com a habitação.


Entre as recomendações apresentadas pela Trussell está também o fim do congelamento do subsídio de habitação local, reintroduzido em abril. Segundo a Fundação Joseph Rowntree, a manutenção deste congelamento poderá deixar os arrendatários privados com um défice de 703 libras por ano até 2030.


Peter Matejic, analista principal da fundação, foi claro: “É totalmente inaceitável que, em 2025, milhões de lares britânicos com baixos rendimentos estejam a passar fome. E mais ainda que os números continuem a aumentar.”


M.S.


Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal da Globe News

Comentários


PODE GOSTAR DE LER...

bottom of page