Licenciados em Moçambique: Empreender para Sobreviver
- Monica Stahelin
- 1 de mai.
- 3 min de leitura

Em Moçambique, a realidade de muitos licenciados é marcada por um mercado de trabalho fechado, onde a busca por um emprego formal tem sido infrutífera.
Marcelina Chipanga, de 38 anos, é um exemplo vivo dessa dura realidade.
Licenciada em Administração, ela percorre as ruas dos subúrbios de Maputo, vendendo molina, uma sobremesa feita de mandioca, para garantir o sustento da sua família.
A luta de Marcelina: Licenciada que sobrevive ao vender molina
Formada entre 2014 e 2019, Marcelina tentou diversas vezes entrar no mercado de trabalho, mas, sem sucesso, viu-se obrigada a reinventar-se. "Atualmente, vendo molina e bolinhos de coco", explica, após terminar um dia de vendas que não lhe rendeu o suficiente para cobrir todos os custos. O preço dos seus produtos varia entre os 5 e os 110 meticais, sendo vendidos, principalmente, a estudantes e trabalhadores de lojas locais.
A história de Marcelina é uma entre muitas de licenciados que, diante da falta de oportunidades, se veem forçados a recorrer ao empreendedorismo como forma de subsistência. Ela, que foi abandonada pelo marido em 2017, começou a sua jornada com a venda de badjias, um pastel de feijão, e mais tarde passou a fazer molina. Apesar da sua formação superior, a sua experiência reflete a realidade de muitos jovens em Moçambique, onde o desemprego é uma constante.
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Estefânia: Da Arquitetura à costura, uma reviravolta necessária
Segundo informações do Governo, a taxa de desemprego no país subiu 1,8% no último trimestre de 2024, totalizando 190.558 pessoas desempregadas, contra 187.149 no trimestre anterior. Este cenário tem levado cada vez mais licenciados a procurar alternativas para gerar rendimento, mostrando os impactos profundos da falta de postos de trabalho formais no país.
Outro exemplo é o de Estefânia Sega, de 27 anos, licenciada em Arquitetura e Planeamento Físico entre 2017 e 2024. Após várias tentativas frustradas de entrar no mercado de trabalho, Estefânia viu-se confrontada com dúvidas sobre as suas próprias capacidades. No entanto, em vez de desanimar, encontrou apoio social e recorreu à sua "primeira paixão", a costura, para reconstruir os seus sonhos. "Eu era apaixonada por costura desde muito nova", mostra, enquanto opera sua máquina de costura, um ato que representa sua nova maneira de conquistar independência.
Estefânia, como muitos outros, teve que redefinir o seu caminho profissional. Apesar de continuar a sonhar com uma carreira em arquitetura, a costura tem sido a sua válvula de escape, permitindo-lhe recuperar a confiança e a independência que o mercado de trabalho formal lhe negou.
Mais Faculdades, Menos Oportunidades: A Crise no Emprego
A situação do mercado de trabalho em Moçambique é ainda mais complicada pelo aumento das instituições de ensino superior no país. Entre 2019 e 2024, o número de instituições de ensino superior aumentou de 53 para 57, mas a taxa de escolaridade permanece baixa, com apenas 8,19% da população em idade universitária a frequentar cursos superiores.
Num cenário onde o desemprego juvenil é elevado, o empreendedorismo tem surgido como uma solução necessária, mas a falta de oportunidades formais continua a ser um obstáculo para muitos licenciados que, como Marcelina e Estefânia, têm de se reinventar a cada dia para garantir a sua subsistência e alimentar os seus sonhos.
M.S.
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