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Cabo Delgado: onda de violência deixa dezenas de mortos e 50 mil deslocados


A imagem mostra um militar moçambicano em frente a uma estrutura danificada na província de Cabo Delgado, Moçambique.
Cabo Delgado: onda de violência deixa dezenas de mortos e 50 mil deslocados © Luís Fonseca/Lusa

Extremistas do Estado Islâmico avançam para sul e desafiam capacidades militares moçambicanas.


A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, voltou a ser palco de violência extrema no final de julho, com pelo menos 14 eventos violentos que resultaram na morte de 28 pessoas, segundo dados do Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED). Os ataques, atribuídos a militantes ligados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM), revelam uma nova fase da insurgência que assola a região desde 2017.


Entre 14 de julho e 3 de agosto, militantes do EIM deslocaram-se a partir do distrito de Macomia em direção ao sul, passando por Quissanga e Ancuabe, até alcançarem Chiúre, onde encontraram resistência apenas por parte da milícia tradicional naparama. Pelo menos 14 membros desta força local terão morrido durante os confrontos.


Deslocações forçadas e fragilidade do Estado

A ofensiva levou à deslocação de cerca de 50.000 pessoas apenas no distrito de Chiúre, no espaço de sete dias. No total, mais de 57.000 deslocados foram registados desde o final de julho, de acordo com agências humanitárias no terreno. Muitos destes refugiados estão atualmente concentrados em duas escolas na vila de Chiúre, onde recebem apoio das Nações Unidas e das autoridades moçambicanas.


A operação do EIM, segundo o ACLED, teve um caráter estratégico e não se tratou de uma fuga. A presença dos insurgentes durante, pelo menos, uma semana na região surpreende analistas e organizações, sobretudo tendo em conta a proximidade dos campos militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e das forças ruandesas, localizados a apenas 50 quilómetros da zona de ataque. As FADM só chegaram ao local a 3 de agosto, revelando fragilidades logísticas e operacionais no combate ao extremismo.


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Campanhas de propaganda e ataques a civis

O relatório do ACLED destaca que esta é a quarta incursão de grupos extremistas no sul de Cabo Delgado desde o início de 2024. Tal como em ações anteriores, a operação foi marcada por ataques dirigidos a civis e por uma campanha de propaganda com alvos cristãos, visando ampliar o alcance ideológico do grupo.


Até à data, desde o início da insurgência em outubro de 2017, foram registados 2.142 eventos violentos, dos quais 1.969 envolvem diretamente elementos do EIM, resultando num total de 6.151 mortos. Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, representando um aumento de 36% em relação ao ano anterior, segundo dados do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).


O Ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, reconheceu no final de julho a gravidade da situação, admitindo falhas na resposta estatal e manifestando preocupação com a nova vaga de violência. A confiança da população na capacidade do Estado para garantir segurança está, segundo o ACLED, “a ser duramente testada”.


M.S.


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