Garimpo ilegal ultrapassa mineração industrial na Amazónia
- Monica Stahelin
- 28 de fev.
- 3 min de leitura

O garimpo ilegal tem avançado de forma alarmante na Amazónia brasileira, superando em expansão a mineração industrial no país. Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado na revista Nature revelou que, entre 2019 e 2022, a atividade garimpeira ilegal teve um crescimento exponencial de 1.200%, enquanto a mineração industrial aumentou apenas cinco vezes no mesmo período. A maioria da área comprometida com o garimpo – 91% – está localizada na Amazónia.
A pesquisa, conduzida com base em imagens de satélite fornecidas pela NASA, analisou os dados sobre a exploração mineral no Brasil ao longo de quatro anos. Luiz Ferreira Neto, coautor do estudo, destacou que, apesar de já se saber que o garimpo ilegal superava a mineração industrial, a pesquisa foi fundamental para mapear e confirmar o avanço dessa atividade no território.
Expansão do garimpo: uma ameaça crescente
Os números evidenciam o crescimento do garimpo ilegal ao longo das últimas décadas. Em 1985, a mineração industrial ocupava cerca de 360 km², enquanto o garimpo abrangia 218 km². Já em 2022, a atividade industrial havia crescido para 1.800 km², enquanto o garimpo ilegal ocupava 2.627 km². O mapeamento também revelou que, nas regiões onde a atividade ilegal ocorre há menos de cinco anos, 62% das áreas estão localizadas em terras indígenas, que por lei deveriam ser protegidas de tais intervenções.
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Os povos indígenas da Amazónia, como os kayapó, munduruku e yanomami, estão entre os mais afetados. Os territórios desses povos concentram 90% da mineração ilegal em terras indígenas. Além dos impactos ambientais, como a contaminação dos rios com mercúrio, essas comunidades enfrentam uma série de problemas sociais e de saúde, com a proliferação de doenças e a invasão de facções criminosas na região.
Impactos socioambientais do garimpo ilegal
O geógrafo Arlesson Souza, outro coautor do estudo, destacou as graves consequências sociais e ambientais do garimpo ilegal. Além dos danos ao meio ambiente, como a destruição de calhas de rios e a erosão, o garimpo está associado a atividades criminosas, como a prostituição e o trabalho escravo. Essas dinâmicas comprometem não apenas o equilíbrio ecológico da Amazónia, mas também a qualidade de vida das comunidades tradicionais que dependem dessa terra para sobreviver.
A ANM (Agência Nacional de Mineração) afirmou que não emite permissões para atividades de garimpo em terras indígenas ou unidades de conservação, onde a mineração é proibida por lei. No entanto, a ilegalidade continua a prosperar, especialmente em áreas de difícil acesso.
Necessidade de maior fiscalização e mobilização social
Para os pesquisadores, a crescente expansão do garimpo ilegal evidencia a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa da mineração no país. Luiz Ferreira Neto afirmou que, enquanto a mineração industrial segue regulada e sob controle, o garimpo ilegal cresce de forma desordenada, frequentemente em regiões inacessíveis, dificultando a fiscalização.
Além disso, Arlesson Souza ressaltou a importância da mobilização social e política para reverter esse cenário. A atuação de agentes políticos que defendem a exploração ilegal, por meio de projetos de lei favoráveis ao garimpo, também é um fator que contribui para o agravamento da situação.
Iniciativa de monitoramento contínuo
Visando enfrentar essa problemática, os pesquisadores planejam lançar, em 2025, uma iniciativa de monitoramento diário do garimpo no Brasil, utilizando a metodologia desenvolvida no estudo publicado na Nature. A ideia é colaborar com parceiros como a organização MapBiomas para aprimorar o monitoramento da atividade ilegal e contribuir para a preservação da Amazónia.
Em resumo, a pesquisa revela não apenas o impacto ambiental e social do garimpo ilegal, mas também a urgência em fortalecer a fiscalização e fomentar a conscientização para proteger a Amazónia e suas comunidades tradicionais.
M.S.
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