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Brasil e EUA nunca estiveram tão distantes

Marcos Troyjo
Brasil e EUA nunca estiveram tão distantes ©CNN Brasil

Em uma entrevista ao programa CNN Entrevistas, que será transmitida neste sábado (8), Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos Brics e ex-responsável pela política comercial do governo Jair Bolsonaro, fez uma avaliação contundente sobre o atual momento das relações entre Brasil e Estados Unidos. Para Troyjo, as relações entre os dois países nunca estiveram tão distantes nos últimos 40 anos, descrevendo a separação entre os governos como “anos-luz” de distância.


Troyjo, que é considerado uma das figuras mais respeitadas no campo da diplomacia e economia no Brasil, afirmou que nunca viu, ao longo de suas quatro décadas de experiência, um cenário tão distante entre as duas maiores economias do continente americano. "Eu não consigo me lembrar, nessas mais de quatro décadas, de um momento em que as duas maiores democracias do Ocidente, as duas maiores economias do continente americano estivessem tão distantes quanto agora", declarou o economista.


Diferenças ideológicas e conjunturais

Ao explicar a atual situação, Troyjo apontou que, além das diferenças ideológicas e de estilo de governo entre os líderes brasileiros e americanos, a conjuntura internacional e a visão de mundo da atual administração de Joe Biden também contribuem para a dificuldade de aproximação. “Há uma separação que só pode ser medida em anos-luz. E eu sinceramente acho difícil essa conexão, não apenas por conta do estilo, da ideologia, dos objetivos do governo brasileiro, mas também por conta da conjuntura e da visão de mundo da atual administração americana”, afirmou o ex-diplomata.


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Esse distanciamento entre as duas maiores economias do hemisfério ocidental tem gerado preocupação, especialmente em relação à política externa brasileira, que tem buscado alternativas para se aproximar de outros parceiros estratégicos enquanto as relações com Washington se tornam cada vez mais tensas. Para Troyjo, a distância atual é um reflexo de um momento político mundial muito diferente daquele vivido nas últimas décadas, com crescente polarização e uma mudança de paradigmas no comércio e nas relações diplomáticas.


Sugestões de Troyjo: alianças empresariais como alternativa ao governo

Diante do cenário complicado nas relações bilaterais, Troyjo sugeriu uma alternativa criativa para o Brasil fortalecer suas relações com os Estados Unidos: buscar alianças empresariais. Ele acredita que, devido ao impasse diplomático, o Brasil deve focar em fortalecer os laços comerciais e buscar parcerias no setor privado, em vez de depender apenas dos tradicionais canais diplomáticos ou do sistema multilateral de comércio.


“O Brasil tem que ser mais criativo do que apenas utilizar os canais diplomáticos tradicionais. Os produtores brasileiros têm que criar alianças com os compradores americanos”, afirmou Troyjo. Para o economista, os Estados Unidos são o principal destino dos bens de maior valor agregado do Brasil, e os compradores americanos demonstram interesse em adquirir mais produtos brasileiros. Ele ressaltou que é fundamental que os produtores brasileiros permaneçam em constante diálogo com os compradores americanos para garantir que o peso da voz brasileira seja ouvido nas esferas decisórias de Washington.


Desafios no comércio e novas formas de negociação

Com o crescente protecionismo comercial e as barreiras impostas pelos Estados Unidos a produtos como aço e alumínio, que já afetaram setores estratégicos da economia brasileira, Troyjo sugere que as empresas brasileiras busquem formas mais eficazes de se fazer ouvir no debate sobre políticas comerciais internacionais. A ideia seria que os empresários brasileiros se unissem para influenciar decisões dentro dos círculos decisórios dos EUA, que têm um grande peso na economia global.


Histórico de Troyjo e o cenário político atual

Marcos Troyjo, que também foi secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais entre 2019 e 2020, destacou a importância de buscar novas formas de atuação política e econômica frente ao atual cenário. Troyjo possui um vasto histórico internacional, tendo atuado como diplomata em Nova York e, posteriormente, como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics. Após sua saída da presidência do NDB em 2023, em meio à pressão do governo Lula para substituí-lo pela ex-presidente Dilma Rousseff, Troyjo continua a influenciar as discussões sobre comércio internacional e diplomacia.


Na semana passada, pela primeira vez desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, houve um contato direto de alto nível entre os governos de Brasil e Estados Unidos. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), teve uma reunião com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e com o representante comercial da Casa Branca (USTR), Jamieson Greer. A conversa abordou as barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, como aço e alumínio, e também discutiu formas de aliviar as tensões no setor.


Avaliando o futuro das relações Brasil-EUA

Embora o contato tenha sido uma tentativa de estabelecer um diálogo mais próximo, Troyjo acredita que as relações entre os dois países permanecerão difíceis de melhorar sem um alinhamento mais claro nos interesses e políticas. A crise interna nos Estados Unidos, as tensões geopolíticas globais e as diferenças nas abordagens econômicas dos dois países dificultam qualquer aproximação significativa, pelo menos no curto prazo.


Troyjo, portanto, sugere que, diante de uma situação diplomática delicada, o Brasil deve buscar novas formas de fortalecer sua presença no mercado global, especialmente nos Estados Unidos, por meio de acordos comerciais e alianças estratégicas com o setor privado. O economista vê esse caminho como a melhor alternativa para o Brasil, ao invés de esperar por uma mudança substancial nas relações governamentais.


Apesar das divergências políticas e diplomáticas, o Brasil continua a ser um dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, e as possibilidades de aprofundar essa parceria, através de canais empresariais, são vistas como uma forma de evitar o isolamento econômico e promover o crescimento do comércio bilateral.


B.N.


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