Jornalistas detidos na Turquia à medida que protestos aumentam
- Monica Stahelin
- 25 de mar.
- 4 min de leitura

Autoridades turcas são acusadas de atacar "direito do povo de saber a verdade", enquanto o presidente Erdogan tenta pintar os protestos como um "movimento de violência".
A Turquia assistiu a uma onda de detenções de jornalistas, incluindo vários em suas próprias casas, no âmbito de uma repressão aos maiores protestos no país em mais de uma década. Os protestos foram desencadeados pela prisão de Ekrem Imamoglu, o principal rival político do presidente Recep Tayyip Erdogan, e ocorreram em várias cidades, apesar da proibição de manifestações nas ruas.
Imamoglu, que é o atual prefeito de Istambul, foi detido formalmente na segunda-feira e está aguardando julgamento sob acusações de corrupção, das quais se declara inocente. A prisão foi amplamente vista como uma tentativa política de afastar um forte concorrente de Erdogan nas eleições presidenciais de 2028. A situação levou à queda da bolsa de valores da Turquia, que registou sua maior perda desde a crise financeira de 2008, e provocou críticas de países vizinhos da Europa.
Desde a detenção de Imamoglu, um total de 1.133 pessoas foram detidas e até 123 policiais ficaram feridos em confrontos com manifestantes, segundo o ministro do Interior da Turquia, Ali Yerlikaya. As forças de segurança alegaram ter confiscado substâncias como ácido, coquetéis molotov e facas durante os protestos. Além disso, pelo menos 10 jornalistas foram detidos, com a União de Jornalistas da Turquia relatando que muitos foram alvo de violência policial, gás lacrimogêneo e balas de borracha enquanto cobriam os protestos, que Erdogan tem tentado descrever como um "movimento de violência".
Publicidade
A Reação de Erdogan e a Repercussão Internacional
As autoridades também tentaram impedir a transmissão ao vivo em canais de televisão e bloquearam mais de 700 contas em plataformas de redes sociais, incluindo as de jornalistas, organizações de notícias e figuras políticas. A plataforma X afirmou estar contestando as ordens judiciais para bloquear essas contas.
A União de Trabalhadores dos Media Disk-Basin-Is denunciou que as autoridades turcas estão atacando "as liberdades de imprensa e o direito do povo de conhecer a verdade" e pediu a libertação imediata dos jornalistas detidos.
Imamoglu, que foi eleito prefeito de Istambul em 2019, representou uma grande derrota para Erdogan e para o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que havia governado a cidade por 25 anos. Embora o AKP tenha tentado anular os resultados da eleição, alegando irregularidades, Imamoglu venceu novamente em uma eleição repetida e manteve sua posição nas eleições locais do ano passado, com o Partido Republicano do Povo (CHP) obtendo avanços significativos contra o partido de Erdogan.
O atual processo judicial contra Imamoglu inclui acusações de envolvimento em uma organização criminosa, suborno, extorsão, gravação ilegal de dados pessoais e manipulação de licitações, todas negadas por ele. Apesar de uma solicitação para que fosse preso sob acusações de terrorismo ter sido rejeitada, Imamoglu ainda enfrenta processos judiciais. O prefeito foi levado para a prisão de Silivri, a oeste de Istambul, enquanto mais de 1,7 milhão de membros do CHP, seu partido de oposição, realizaram uma eleição primária para endossá-lo como candidato presidencial.
Além de apelar contra sua prisão, o CHP também está contestando a decisão da Universidade de Istambul, que anulou o diploma de Imamoglu, um requisito para a candidatura à presidência.
Junto com Imamoglu, outras 47 pessoas foram detidas, incluindo um de seus principais assessores e dois prefeitos distritais de Istambul, sendo que um deles foi substituído por um nomeado pelo governo. Outros 44 suspeitos foram libertados sob controle judicial.
As autoridades também estão investigando o escritório do prefeito de Ancara, outra figura popular da oposição, devido ao suposto uso indevido de fundos públicos relacionados à organização de 33 concertos, conforme divulgado pela municipalidade.
Desafiando as autoridades em um discurso a manifestantes, o líder do CHP, Ozgur Ozel, questionou Erdogan e o promotor público chefe de Istambul sobre a transmissão ao vivo do julgamento de Imamoglu, afirmando que isso permitiria ao prefeito responder às acusações e "expor as mentiras" do governo.
Enquanto isso, o presidente Erdogan reagiu às manifestações dizendo que o CHP deveria parar de "provocar" os cidadãos. Ele acusou a oposição de ser responsável pelos danos à polícia e aos comerciantes, além da destruição de bens públicos, e prometeu responsabilizar politicamente e legalmente a oposição por esses atos.
Publicidade
Organizações de direitos humanos e países europeus alertaram que a prisão de Imamoglu representa um retrocesso democrático na Turquia, e criticaram a intervenção policial, com a Alemanha afirmando que as ações do governo turco tornam a candidatura do país à União Europeia "cada vez mais vazia".
Após a detenção de Imamoglu, o mercado financeiro da Turquia sofreu uma forte queda, levando o banco central a intervir com vendas de moeda estrangeira e outras medidas de estabilização. Erdogan, no entanto, procurou tranquilizar os investidores, garantindo que a prioridade do governo era proteger a estabilidade macroeconómica e financeira do país.
M.S.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal da Globe News
Comentarios