Trump e o "homem louco": tarifas que abalam o mundo
- Beatriz S. Nascimento
- 12 de abr.
- 3 min de leitura

António Costa Silva, ex-ministro da Economia e especialista em gestão, critica a estratégia tarifária da administração Trump, alertando para as suas potenciais consequências económicas.
A guerra tarifária desencadeada por Donald Trump pode ter começado com um diagnóstico racional, mas rapidamente descarrilou para uma abordagem "irracional e contraproducente", alerta António Costa Silva, em entrevista à CNN Portugal. O antigo governante considera que, embora existam fundamentos legítimos – como o défice comercial dos Estados Unidos e a desindustrialização progressiva – os métodos escolhidos para responder ao problema são profundamente errados e perigosos para a estabilidade económica global.
Segundo Costa Silva, Trump está a aplicar o que na diplomacia se conhece como o "paradigma do homem louco": uma estratégia baseada na imprevisibilidade, usada para semear o medo nos adversários. Contudo, sublinha, "quando se aplica isto à economia é um desastre", porque esta exige previsibilidade e confiança. A sua política de tarifas afeta diretamente a confiança dos investidores, desincentiva o investimento e provoca instabilidade nos mercados financeiros.
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Uma guerra baseada numa teoria da conspiração
O economista aponta ainda críticas duras ao conselheiro Peter Navarro, o ideólogo da política tarifária de Trump, acusando-o de alimentar o presidente com uma "grande teoria da conspiração", segundo a qual o mundo inteiro estaria a conspirar contra os Estados Unidos. Costa Silva considera que esta visão simplista ignora o papel dominante dos EUA na economia global, especialmente nos serviços, onde detêm quase 70% do mercado mundial.
Além disso, as tarifas impostas não seguem qualquer lógica económica sólida. As fórmulas utilizadas para a sua aplicação são arbitrárias, baseando-se não nos custos reais dos bens importados, mas nas percentagens de défice com cada país. Para o antigo ministro, isto traduz-se num "método completamente errado", que já demonstrou ser prejudicial, tanto para os próprios EUA como para os seus parceiros.
Pausa de 90 dias não reverte danos
A suspensão temporária de 90 dias na aplicação de tarifas não convence Costa Silva. Segundo o economista, os danos causados à economia mundial já foram feitos e dificilmente serão revertidos por uma pausa momentânea. A falta de consistência nas decisões da Casa Branca – que já recuou e avançou várias vezes com medidas semelhantes – mina a credibilidade dos Estados Unidos enquanto parceiro comercial.
Costa Silva lembra ainda que a desindustrialização norte-americana resultou de escolhas políticas e empresariais internas, numa lógica de globalização da qual os EUA foram, em muitos aspetos, beneficiários. Com a aposta em setores de elevado valor acrescentado, como os serviços e a tecnologia, os EUA reforçaram a sua posição como líderes económicos mundiais, mesmo com a deslocação da produção para países com mão-de-obra mais barata.
Europa deve preparar-se
Face ao cenário de incerteza, António Costa Silva defende que a União Europeia, devem adotar uma estratégia coordenada para enfrentar os riscos da crescente instabilidade comercial. A solução, afirma, passa por um novo entendimento global, semelhante ao Acordo Plaza dos anos 80, que envolva os principais blocos económicos mundiais e reequilibre o comércio internacional com base no diálogo e na cooperação.
Apesar da pausa anunciada, o especialista conclui que “é uma ilusão pensar que as coisas com Trump vão ser diferentes”, uma vez que a sua política externa e económica se rege pela imprevisibilidade e pelo confronto. A manter-se esta linha de atuação, Costa Silva não antevê uma inversão dos efeitos negativos já em curso, tanto no investimento como na confiança dos mercados internacionais.
B.N.
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