Noel Clarke perde processo por difamação contra o The Guardian
- Monica Stahelin
- 22 de ago.
- 2 min de leitura

A Justiça britânica considera verídicas as acusações de má conduta sexual contra o ator.
O ator e realizador britânico Noel Clarke perdeu um processo de difamação no valor de 70 milhões de libras contra o jornal The Guardian, depois de a Alta Corte de Londres ter considerado que as alegações de má conduta sexual feitas por mais de 20 mulheres eram, na sua maioria, verdadeiras e de interesse público.
A decisão foi proferida esta sexta-feira pela juíza Steyn, que classificou Clarke como um testemunho “não credível”, acrescentando que o ator mentiu em tribunal e inventou alegações infundadas para tentar desacreditar provas documentais. O tribunal concluiu que Clarke se envolveu em comportamentos sexualmente inapropriados, bullying e assédio no local de trabalho, e que os jornalistas do Guardian agiram com diligência, responsabilidade e em conformidade com o interesse público.
Investigação jornalística validada pela justiça
O caso teve início após a publicação, em abril de 2021, de uma investigação conduzida pelos repórteres Sirin Kale e Paul Lewis, que incluía testemunhos de mais de 20 mulheres com relatos de assédio sexual, propostas inapropriadas e comportamentos intimidatórios por parte de Clarke. Entre os casos mais marcantes está o de Joanne Hayes, assistente de guarda-roupa na série Doctor Who, que afirmou ter sido alvo de comentários sexualmente explícitos enquanto se encontrava sozinha com o ator.
Durante o julgamento, surgiram outros testemunhos de mulheres que trabalharam com Clarke em produções como Kidulthood, Bulletproof e Doctor Who. As alegações incluíam filmagens de cenas de nudez com finalidades sexuais pessoais, avanços não solicitados e humilhações a colegas que rejeitaram as suas investidas. A juíza considerou que o comportamento do ator criou um ambiente laboral hostil, onde muitas mulheres se sentiram ameaçadas ou coagidas.
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Reputação arruinada e carreira estagnada
Na sequência da publicação das denúncias, Clarke foi suspenso pela BAFTA, poucos dias após receber um prémio pela sua contribuição para o cinema britânico. A sua carreira sofreu um colapso imediato: a série Viewpoint, que protagonizava na ITV, foi retirada da programação e a produção da quarta temporada de Bulletproof foi cancelada.
O advogado de Clarke argumentou em tribunal que o seu cliente foi “completamente exilado” da indústria cinematográfica e televisiva, e passou a ser percecionado como um criminoso por antigos colegas e parceiros de trabalho. Clarke alegou ainda ter sido alvo de uma conspiração envolvendo jornalistas, amigos próximos e algumas das mulheres que testemunharam contra si, acusação que foi rejeitada pela justiça.
A diretora editorial do Guardian, Katharine Viner, saudou a decisão como “uma vitória merecida para as mulheres que sofreram devido ao comportamento de Noel Clarke”, acrescentando que o caso representa um marco importante para o jornalismo de investigação no Reino Unido.
M.S.
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