Tarifas de Trump Podem Impactar Economia Brasileira com Alta do Dólar
- Monica Stahelin
- 10 de abr.
- 2 min de leitura

As novas tarifas anunciadas por Donald Trump, apesar de focadas especialmente na China, podem provocar efeitos colaterais relevantes na economia brasileira. Ainda que o Brasil esteja fora da lista de países diretamente atingidos pela medida, o clima de incerteza e instabilidade nos mercados globais já se reflete em indicadores sensíveis da economia nacional.
Saída de Capitais e Pressão sobre o Real
O anúncio de Trump de impor tarifas de até 125% sobre produtos chineses e suspender, por 90 dias, tarifas recíprocas sobre outros países — exceto a China — contribuiu para o aumento da volatilidade no mercado financeiro internacional. Como reflexo, o Brasil registou, em março, uma saída líquida de 8,3 mil milhões de dólares, segundo dados divulgados pelo Banco Central. É o pior resultado para o mês desde o início da série histórica em 1982, superando inclusive os números negativos da pandemia em 2020.
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Essa fuga de capitais pressiona o câmbio, encarecendo o dólar, o que impacta diretamente na inflação interna — já acima do teto da meta estipulada pelo Banco Central. A consequência pode ser a manutenção da taxa de juro elevada, atualmente em 14,25% ao ano, dificultando a recuperação económica e o consumo interno.
Comércio Exterior e Riscos de Recessão
A crescente tensão comercial entre EUA e China pode também desacelerar a economia global, o que afeta diretamente países exportadores de commodities como o Brasil. Os produtos mais vendidos pelo país — como petróleo bruto, soja e minério de ferro — tendem a desvalorizar-se em um cenário de menor crescimento mundial.
Juliana Inhasz, economista do Insper, alerta que a combinação de recessão nos EUA com desaceleração do comércio mundial pode reduzir a procura por produtos brasileiros. Já Alexandre Espírito Santo, da Way Investimentos, considera que o ambiente atual é prejudicial “para todos os lados”, mesmo com a trégua parcial anunciada por Trump.
Oportunidades em Meio à Crise
Apesar do cenário preocupante, analistas veem também possibilidades para o Brasil. A imposição de tarifas mais pesadas aos chineses pode fazer com que parceiros comerciais dos EUA busquem fornecedores alternativos — e é aí que o Brasil pode ganhar espaço. Como grande exportador, o país pode beneficiar-se do redesenho das cadeias globais de fornecimento.
“Novos mercados poderão fortalecer as conexões comerciais brasileiras, impulsionando, em cenários específicos, o crescimento económico”, reforça Inhasz.
Perspectivas de Acordos Comerciais
Trump afirmou que pretende usar o período de pausa nas tarifas para negociar “acordos justos para todos”, excluindo apenas a China da suspensão temporária. A estratégia, segundo o secretário do Tesouro norte-americano, visa abrir espaço para novas tratativas bilaterais.
“Apenas quero justiça. Serão acordos justos para todos. Mas eles não eram justos com os Estados Unidos”, declarou Trump a jornalistas, em frente à Casa Branca.
Resta saber até que ponto a retórica protecionista poderá ou não desencadear uma nova crise comercial global — e como o Brasil se posicionará nesse cenário, entre riscos e possíveis oportunidades.
M.S.
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